Luiz Pinheiro
Se me perguntarem o que prefiro: um poema sem
conteúdo, mas com forma, ou um poema com conteúdo, mas sem forma, opto pelo
primeiro, visto que não considero o segundo um poema.
Poema é essencialmente forma. Diz respeito ao som das
palavras, sua disposição, aquilo que apenas pode ser dito da maneira como é
escrito. Todo o resto são versos aleatórios ou meros pensamentos. Claro que se
um poema consegue reunir bom conteúdo e boa forma, então é perfeito.
Gosto de uma de minhas músicas, feita em parceria com
a Leila Romero, chamada “Barra Macaco”. Ela é pura forma e é gostoso ouvi-la.
Embora exista quem encontre algum conteúdo ali, isso é por conta da
subjetividade do ouvinte. É interessante que possamos gostar de uma canção em
que a letra não diga nada. Acho isso muito natural, pois, muitas pessoas que não
sabem falar Inglês, adoram canções cantadas nessa língua. O que importa, no
caso, é a sonoridade da melodia e da letra. Se é para abolir conteúdo, que se faça
com estilo, elegantemente.
Acho bacana temas sociais em canções, mas não gosto
muito quando são contadas historinhas como se as letras fossem prosa. E quando
são em forma de versos, que sejam ditos com inspiração e estrutura poética, não
apenas como mensagens educativas ou políticas de estética duvidosa.
Arte pela arte em primeiro lugar. Mesmo se num “interjogo”
com temas sociais.
Este novo CD “3,1415...” é diferente do primeiro,
chamado “Decompor”, já que aborda mais temas sociais. Faz referência a tráfico,
ao uso de burcas, a moradores de rua, a ambientalismo, fundamentalismo,
moralismo e, lógico, amor e desamor. Mas, ao falar desses assuntos o faço com uma perspectiva
muito própria, filosófica, longe dos jargões atuais, os quais abomino. Procuro
uma visão que perpasse tais temas de forma “oblíqua”. Aliás, esta palavra daria
um lindo nome de canção. Ou até subtítulo para o disco, pois também se refere a
um termo da área da Matemática, a Geometria.
Quando estudante, eu era muito bom em Matemática. Quem
me apelidou Pi foi uma professora da área. Hoje não tenho quase nenhum
interesse em Exatas. Da Matemática fui para a área de Biológicas cursar
Medicina e, logo após, também cursei Psicanálise, já bem distante das duas.
Atualmente, me interesso mais por Humanas, incluindo o fazer artístico.
Sendo assim, gosto dos adjetivos usados na definição
do símbolo matemático de letra grega Pi (3,1415...), porque têm relação direta
com traços humanos: “inexato, aproximado, infinito, irracional, transcendente”.
Ao musicar esse tema, consegui unir meus primeiros interesses de vida aos
atuais. Acho esse novo disco mais autoral que os anteriores. Não que aqueles
não o fossem, porém, neste trabalho, imprimo minhas digitais de modo mais nítido.
A realização de “3,1415...” conta com a direção de Valter
Gomes, que também é o meu psicanalista musical, pois consegue interpretar
minhas intenções e torná-las realidades sonoras. Fazemos todos os arranjos
juntos, ponderando cada nota empregada e que tipos de instrumentos iremos usar.
É um processo experimental no qual harmonizamos elementos acústicos e
eletrônicos de forma contemporânea.
Uma das novidades deste CD é minha voz soar mais
rasgada em certas canções. A outra é Valter levar o som de sua guitarra por
técnicas e caminhos inéditos. Por estas e outras, considero-me um privilegiado
por contar com sua amizade e parceria. Ele é de um talento enorme e de
humildade ímpar.
amigo tu es poderozo beijos.Angela Marques
ResponderExcluirPenso que o seu interesse pela Arte (música e literatura, principalmente) são bem antigos... Você era bom na Matemática, mas sempre que podia dava uma fugidinha pra música... Pelo menos no tempo em que convivemos...Josana Ferreira Bassi de Moura.
ResponderExcluirMas em literatura quem era boa era vc, Josana Ferreira Bassi de Moura. Assim como em Sociologia. Eu era meio imaturo para essas matérias. Mas como lembro de nossas tardes na sua varanda tocando violão! É uma época inesquecível. Acho mesmo que tudo começou ali. Nossa turma era especial.
ResponderExcluirAcabei de ler seu post (in)felizmente meio de pileque. É de uma sinceridade absurda, Pi. Que bom tê-lo em minha vida. Não sou bom em muita coisa. Mas consigo ter gente da melhor estirpe ao meu redor. Só isso já justifica minha passagem efêmera por aqui. Obrigado. Emerson Lopes
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEmerson, vc tem grande contribuição em minhas reflexões. É um ótimo interlocutor, escreve bem, e tem uma percepção bastante aguda de meu trabalho. Obrigado.
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