terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Canção: "A cidade não é mais moderna"



Imagem: Reprodução

Esta canção é uma respeitosa brincadeira em cima de uma música de Milton Nascimento chamada "Trastevere", que começa com a frase ‘a cidade é moderna’. Preferi seguir outro rumo: abordo a melancolia que a percepção da passagem do tempo pode causar em qualquer um de nós. O arranjo e a execução do violão são de meu amigo Hermelino Neder.

Para ilustrar este post faço uma homenagem ao meu pintor paulista preferido, o grande Gregório Gruber, que, melhor do que ninguém, consegue retratar a solidão esfumaçada da noite do centro da cidade.

                           

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Sobre a música “Do seu lado”


Imagem: Reprodução


A música que abre meu CD “Decompor” se chama Do seu lado. É uma das poucas “solares” do disco. As maioria, a meu ver, são do “subsolo”.

Fiquei em dúvida se a incluiria nesse trabalho, mas o Hermelino Neder gosta muito dela e disse que cortaria relações comigo se eu a excluísse. Não quis arriscar.

É que eu achava que, dentre as minhas canções, essa era uma “cançãozinha”. Não dava muito valor a ela. Mas meu amigo, que é músico erudito, acha exatamente o oposto. Diz que a música mereceria até um estudo, porque formalmente é muito bem elaborada.

Sei que sua letra foi bem construída e a fiz com o rigor que sempre gosto de ter, mas a música saiu intuitivamente, quase sem pensar. Talvez essa união de opostos é que dê graça à ela.

Estou postando-a, conforme fiz com Uma alma que voa, e farei com outras músicas do CD. Tirem suas conclusões e opinem.


                        


terça-feira, 30 de novembro de 2010

"Uma alma que voa"

Imagem: Reprodução

Amigos, conforme prometido no post anterior, segue em primeira mão uma das faixas do meu novo CD Decompor, a inédita "Uma alma que voa". Ela é fruto de uma bonita parceria com o poeta mineiro Flávio Boaventura em homenagem ao eterno Waly Salomão:


                          


sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Eu, o Rio e Uma alma que voa

Imagem: Reprodução


Luiz Pinheiro



                      Sempre tive uma relação musical e afetiva com o Rio de Janeiro.
         A primeira vez que fui à cidade, na companhia de amigos da faculdade de Medicina, estava em temporada o show "Bicho Baile Show" de Caetano Veloso. Como eles não quiseram ir, deixei-os no hotel e fui sozinho.
         Lá, conheci alguns cariocas que fizeram toda a diferença: Silvio Andrade, Charles Nelson e Luiz Paladino.
No início da apresentação, mal soavam os primeiros acordes da guitarra, os três saíam dançando pelo teatro, que inusitadamente reservava um espaço para isso. Pensei que eram contratados, mas não, eram apenas fãs como eu e apaixonados pela música dos baianos. Silvio me chamava para dançar. Eu, com minha timidez paulista, apenas lhe retribuía sorrisos.
         No final do show nos encontramos no saguão do teatro e os três me levaram para conhecer a Lapa. Joguei-me na noite do Rio e a partir daí passei a namorar a cidade maravilhosa.
Toda vez que estreava um show, antes que chegasse a São Paulo, eu já estava com a mochila nas costas sentindo a maresia de Copacabana.
         Vi "Cantar",de Gal Costa, no Teatro da Praia, cerca de dez vezes. Meu pai estranhava o fato de eu ir tanto ao Rio. Ele achava que Gal era uma namorada que eu tinha lá. Dizia isso para as pessoas. E eu ria.
         Agora, depois de anos, tive a alegria de musicar um poema que Flavio Boaventura fez para o poeta Waly Salomão, após sua morte. Como ele traz muitas imagens do Rio, ao musicá-lo, pude reafirmar o meu amor pela cidade e homenageá-la, com um gesto de gratidão .
         Depois que eu e Valter Gomes fizemos o arranjo dessa canção, percebemos nela uma pegada meio oriental e quando me lembrei que Waly tinha ascendência árabe, emocionei-me muito no estúdio. Tudo fazia sentido.  
Em minha ida ao Rio, recentemente, Charles me levou ao morro do Vidigal. Mais emoção, que resultou em poema.
Estou postando a música, que se chama “ Uma alma que voa” e o poema  “Vidigal” para vocês, em primeira mão.


Vidigal (Crônica poética)


Imagem: Reprodução
Luiz Pinheiro
(julho 2010)

Depois que Charles Nelson
me aplicou Vidigal,
nunca mais fui o mesmo,
nunca mais fui igual.


Pelos vãos,
entre motos e vans,
que não excluem ninguém,
pessoas vão e vêm
muito mais que depressa.
Mesmo parado, no sopé,
o movimento  não cessa.


Poemas na escada
e araras coloridas
nos azulejos
contrastam com
a dura mais pura 
realidade  que vejo.


Tudo nasce
como um prematuro parto
e desaparece 
no mesmo instante:
Infarto fulminante.
Entre sussurros e carros
rapazes brotam do céu
e do barro.


O que é fato,
são como gestos de teatro.
Em cena aberta,
quando me abordam
não me ferem,
porque parece
que  todos bem me querem.


Vilma anda
como se sambasse
e me acena de longe
com uma beleza
que não se põe
em nenhuma mesa:
leveza de monge,
no burburinho
que lhe foge.


Distante do asfalto,
Jesus vende lá no alto
e Dadinho, cá embaixo,
nos saúda 
com seu sorriso cauto.
Desço do salto e
amo o que não conheço
porque me faz parecer
o que não pareço.


A favela acuada,
majestosa
escorrega pelo morro
e escabrosa
vislumbra o mar:
Comunitários no horizonte,
poetas no bar.


Vidigal:
videoclipe da vida real,
Ilusão,
simbiose
entre o bem e o mal.


Visto o que havia 
para ser visto,
me dispo,
respiro e desço.
nada  dou,
nada peço,
apenas envelheço.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

DECOMPOR



(Luiz Pinheiro)

PONHO E DECOMPONHO,
TAMBÉM DECANTO.

GOSTO DE SEPARAR
E UNIR PALAVRAS,
SEUS SONS, CLIMAS,
ALITERAÇÕES E RIMAS.

MISTURAR, SEM FAZER VITAMINA,
O ROCK, O RAP, O FUNK,
A BALADA E O BOLERO.

NÃO PRECISO ME LEVAR
TÃO A SÉRIO.

CANTO O QUE SAI DE MIM,
O QUE CHEGA A MIM,
O QUE PASSA POR MIM,
ATÉ O CHINFRIM.

MAS SÓ FAÇO COM ESTILO.

ME INSINUO, REMEXO,
VASCULHO, DESTILO,
ME VIRO, BURILO
CUSPO, LUSTRO,
PONHO,  RETIRO.

ARMA ENGATILHADA,
ATIRO.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Cegonha



(Luiz Pinheiro)     



Produzir um disco é encomendar uma criança, com direito a concepção, gestação e parto.
O primeiro foi em parceria com Hermelino, filho de dois pais.
O segundo é solo, filho de pai solteiro. Em termos, porque sem o Valter essa criança jamais vingaria.
Vou parí-la em breve. A felicidade é enorme, é a minha contribuição para a eternidade.
Minha mãe, fosse viva, ficaria orgulhosa de seu  neto de proveta.       
Os padrinhos: Hermelino, Miro, Vanessa, Tere e Sandra.
A gestação foi assistida por Newton Carneiro, em seu estúdio-laboratório com direito à lambida da Duquesa, sua linda cachorra de pelos mais negros que a asa da graúna e doida por cafuné.
Não é parto sem dor, tampouco sem prazer. Dias terríveis de sofrimento e semanas de muita alegria. Haja compor, decompor e recompor.
Agora é estourar champanhe e oferecer charuto. Me liberem que vou dar um trago.
Tudo fica muito muito muito melhor do lado de todos vocês.
Lancei minha garrafa ao mar, cd e blog. Logo logo tem livro. Que sejam encontrados e que tenham vida longa meus decantados e decompostos rebentos.