domingo, 23 de outubro de 2011

Sentado à beira do caminho ( Roberto Carlos)




                                              
                                                

domingo, 11 de setembro de 2011

Vicente Celestino - Patativa

      Sempre gosto de cantar uma canção do Vicente Celestino. Quase não vejo releitura de seu trabalho. Cantei Patativa no show DECANTAR e cantarei outra no DECOMPOR dia 21 de setembro no Sesc Vila Mariana.

domingo, 28 de agosto de 2011

Contemporaneus Almodóvar music

Continuando a postagem de trabalho de amigos, trago hoje um vídeo de que gosto muito. É do meu amigo Laerte Késsimos. Apreciem.

                                                      

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

"DECOMPOR", DE LUIZ PINHEIRO, É UMA OBRA PRIMA

10/08/2011

Por Ivam Cabral, dramaturgo e ator d'Os Satyros


Imagem: Divulgação















Luiz Pinheiro é um nome importante da MPB. Parceiro de Hermelino Neder no excelente álbum "Cássia Secreta", de 2008, compôs para Vânia Bastos e Cássia Eller, no antológico "Cássia Eller", de 1992 – inclusive, é um dos autores de "Marginal", um dos carros chefes do disco.

Eu o conheci há uns 10 anos. Pi, como é chamado pelos amigos mais próximos, é autor, também ao lado de Hermelino, das canções de "Kaspar ou a Triste História do Pequeno Rei do Infinito Arrancado de sua Casca de Noz", espetáculo que Os Satyros produziu em 2004.

Pi apareceu na Praça Roosevelt como convidado de Vanessa Bumagny, que comemorava seu aniversário no Satyros. 12 de maio de 2001, uma noite inesquecível. Estava, ali, no Satyros Um – na época somente Espaço dos Satyros, já que nem sonhávamos com uma segunda sede –, um monte de gente bacana, um pessoal da música, uma área com a qual começávamos a flertar.

Naquele tempo, heróico mesmo, o Espaço dos Satyros oferecia, além dos espetáculos nos fins de semana, shows musicais. Era assim: Adriana Capparelli, às segundas e terças com um espetáculo lindo, "Pequeno Circo Íntimo", com canções de João Bosco e Aldir Blanc, dirigido pela Isabel Setti; e, às quartas e quintas, Letícia Coura, Beba Zanetini, Vitor da Trindade e eu apresentávamos "Letícia Coura canta Boris Vian".

Então a gente pensou que poderia criar uma relação mais profunda com a música. Tínhamos certeza de que estávamos vivendo um grande movimento artístico e que faríamos a diferença. Em nenhum momento – isso em 2001, 2002 – pensávamos que não conseguiríamos chegar lá. E até acho que chegamos. Várias ideias incríveis surgiram ali, nos bastidores dos Satyros. E muitas realizações também. Recebemos nomes bem bacanas em nosso palco: Zeca Baleiro, Chico César, Dante Ozetti, Rebeca Matta, Vitor Ramil, Vanessa da Mata, Moisés Santana, Waldir da Fonseca, Luiz Gayotto, Kléber Albuquerque, Nô Stopa, Helô Ribeiro, Ilana Volcov, André Sant'Ana e, até, Alaíde Costa.

Em diversas ocasiões, Luiz Pinheiro se apresentou no Satyros. Acho, até – e não gostaria que essa afirmação soasse, assim, pretensiosa demais – , que foi por causa do lado musical do Satyros que o Luiz começou a levar a sério a sua veia de intérprete. Sim, porque até em algum momento de sua biografia, Pi era apenas um compositor cult.

Muitas histórias foram vividas por nós nestes anos todos. Noites de bebedeiras e loucuras e devaneios artísticos mil. Um belo dia Pi aparece com uma canção que nos deixa boquiabertos. "As Impurezas da Rua sem Véu", composta por ele e Vanessa Bumagny chegava até nós como uma espécie de hino da Praça Roosevelt. Tempos depois, outra canção, "Phedra D. Córdoba", escrita por ele, Morena Rosa e Marcos Aspahan, em homenagem à nossa diva.

Não me esqueço. Satyrianas de 2009. A Praça Roosevelt é uma festa e o evento traz para a nossa praça um público enorme: 40 mil pessoas circularam pela nossa festa em 78 horas de atividades ininterruptas, das 18h de quinta à meia-noite de domingo. Na tenda CineMix é apresentado pela primeira vez o clip da canção. Ao final, uma ovação ao trabalho do Pi e ao poder de sedução da nossa diva automática indica que estamos diante de uma história poderosíssima protagonizada pelo trabalho daqueles artistas alternativos.

Há umas semanas o Rodolfo me conta que Pi esteve no Satyros e deixou um presente para mim, seu CD, "Decompor". O disco ainda fica na minha bolsa por uns dias até que eu consiga ouvi-lo. Foi então que o tempo parou ao meu redor; me certifico: tenho aos meus ouvidos uma obra-prima!

Pi, meu amigo, meu talentoso e grandioso amigo, revela, neste trabalho, o maior dos poderes: o do encanto. Faz com que a gente descubra um estado único, aquele, o da adoração, que só o melhor da arte pode tocar.

"Decompor" é um disco conceitual. E surge definitivo, requintado e elegante como a maioria de suas canções. Sem nenhuma concessão, um dos melhores álbuns do ano. Não só por revelar um compositor maduro, mas um intérprete em sua plenitude, nem tanto técnica, mas principalmente artística. E com um rigor! O que é o violão de Hermelino Neder em "A Cidade Não É Mais Moderna". Ou sua interpretação para "Brasa Dormida". Ou, ainda, a participação de Vanessa Bumagny em "Cinzas".

Estou maravilhado! E louco pra encontrar o Pi, dar um abraço apertado e dizer a ele que sou seu fã. Agradecer, também, por ter me reconhecido neste trabalho – sim, eu sabia de cor a maioria das canções!

Publicado originalmente em: terrasdecabral.zip.net







Nova canção




imagem:reprodução


Amigos, estou postando uma nova canção cujo arranjo ainda está em progress. Façam seus comentários.
Chama-se TRAFICANTE, inspirada nas pessoas que disseram estar viciadas no meu CD.


                          

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Nômade urbano

                                                                   imagem: reprodução                                                    

Luiz Pinheiro


Nômade Urbano
(O Rap do morador de rua)

Sou um nômade urbano,
nesta cidade insensata.
De manhã estou na Penha,
à tarde estou na Lapa.

Sou visto na Paulista,
na Gurgel ou na São João,
sob o sol a céu aberto
Ou à sombra do minhocão.

Nenhum albergue me prende.
Não há teoria que dê conta.
O social não me entende,
a violência me afronta.

É que não paro no ponto:
sou da rua, sou trecheiro.
Posso lhe causar espanto
com meu hábito e meu cheiro,

mas, aceitar  seu dinheiro
é uma via de mão dupla,
porque mata minha fome
e alivia sua culpa.

Relógio não me adianta
e tampouco me atrasa.
Para mim a pior idéia
é o retorno a qualquer casa.

Não vou partir nem chegar.
Nem quero aprender em lousas.
O que mais me dá prazer
é caminhar entre as coisas.

Nunca faço diferença
entre o público e o privado.
Você coloca limites,
eu rompo o alambrado.

Não tente me enquadrar
num projeto de inclusão.
Saiba que me excluir
é minha revolução.






      




sábado, 23 de julho de 2011

Um guia para se ouvir DECOMPOR

            Recebi com muito prazer a matéria que o Luiz Chagas fez sobre meu CD. Na verdade, ele me apresentou como músico e fez uma espécie de biografia minha, bastante generosa, mas não aprofundou a análise sobre as músicas em si e meu trabalho poético. Segundo ele, havia escrito muito mais, mas teve que se restringir ao espaço fornecido pela revista. Também gostei muito de ele ter inserido o Pi, que é como carinhosamente me chamam os meus amigos. Ainda não havia sido apresentado desse modo.

      Resolvi, então, complementar a matéria e fazer um roteiro para que vocês pudessem entender um pouco mais meu trabalho.

      Gostaria também que vocês pudessem comentá-lo. Esse retorno é importante para o artista.


                                                               foto: Georgeta Gonçalves
                                                        

Luiz Pinheiro

            Meu disco se inicia com a música DO SEU LADO. É uma maneira de eu cumprimentar os ouvintes e lhes dar uma boa vinda. Quero estar ao lado deles e os quero ao meu lado. Assim tudo fica muito melhor.

      Em seguida, apresento A CIDADE NÃO É MAIS MODERNA. Parto de um outro tempo, o modernismo, que desembocou na tropicalha e que trouxe paralelamente Milton Nascimento, com sua A CIDADE É MODERNA, e vou em busca do meu caminho que se dirige para o sol, trazendo toda a melancolia já digerida, dirigindo-a para uma outra dimensão, mais comtemporânea, já absorvida a estética bossanovista e roqueira da MPB, o sol. Digo que a criança cresceu e busca novos rumos, procurando sua própria identidade, após ter se misturado a todas as influências musicais, num momento em que o caldo entornou. Junto as sobras e faço a minha sopa.

      ÓDIO NO CAMARIM, sobre letra de Eraldo S. fala de minha inserção no universo artístico e todos os sentimentos que isso pode despertar. Amor e ódio, inveja, cobiça, como motor e entrave para a criação de uma obra musical ou artística. Inspirada no camarim de um teatro. Fala sobre as emoções que um ator ou músico sente minutos antes de entrar no palco - quase como um fio desencampado, prestes a dar curto - e da necessidade de ter por perto pessoas queridas e insuspeitas. Tem como pano de fundo a relação de um suposto casal.

      HAJA O QUE HOUVER: paixão à primeira vista, há muitos anos atrás, e uma promessa de gravá-la em disco um dia.
Me transporta para uma época que não vivi mas onde fui colher frutos, influenciado pela tropicália, que me apresentou os clássicos da MPB. Interessa-me muito o lado psicanalítico da letra. É um tratado sobre sado-masoquismo, dito de um modo tão simples e popular, corriqueiro e, ao mesmo tempo, poético. Fala de uma pessoa que para se sentir existindo precisa de castigos físicos e morais. Sem isso, ela simplesmente é nada. Mostra como um sintoma tem uma verdade escondida extremamente dolorosa e como tirar algum prazer desse destino, mesmo que às custas de muita angústia.

      EU SEMPRE: mais um personagem em busca de amor, vivendo suas frustrações e compensando-as com vivências de risco e perigo, em encontros furtivos pela solidão noturna da cidade. Letra da Vanessa Bumagny da qual me apropriei. É como se eu a tivesse feito. Diferenças à parte, lembra-me um pouco o universo chicobuarqueano transmutado em um olhar muito próprio dos que hoje estão fazendo canção.

      BRASA DORMIDA: Balada dos anos 80. Ouvi muito essa canção na voz do Marcelo, um jovem surfista de carreira meteória apadrinhado por Gil, Gal e Caetano. Minha versão é mais cool. Exalta o lado melancólico da canção. Interessante que foi uma época muito feliz da minha vida, quando minha casa era o ponto de encontro dos amigos e colocávamos a vitrola pra tocar, logo de manhã, ao levantarmos.

      DOR: Canção feita na época em que era estudante de medicina e mantinha paralelamente um sonho de ser compositor. Eu e meu parceiro ouvíamos muito Nana Caymmi e acho que ela tem uma certa influência sobre essa composição.

      SOMBRA NEGRA: Primeira música que fiz e classifiquei como brega. Como tem uma letra muito bem elaborada, aquele aspecto fica encoberto pelo literário. Meus amigos gostam muito e não a acham brega. Quando compus pensei na possibilidade de Bethânia cantar. Depois, com o arranjo do Valter Gomes ela foi ganhando uma alma roqueira.

      UMA ALMA QUE VOA: Letra do Boave, com melodia minha. Não é percebida pelos ouvintes em uma primeira audição, mas é uma das que mais gosto do disco. Sugiro que as pessoas ouçam com mais atenção para que possam usufruir dessa estética sonora. Tenho uma relação afetiva muito grande com o Rio e ela passeia pela paisagem carioca. Gosto muito do arranjo e das frases musicais do Valter na sua guitarra. É um dos arranjos que a banda mais gosta e toca com muito prazer. Tem um quê de oriental que remete à ascendência árabe do Wally Salomão, a quem o poema é dedicado.

      CINZAS: Mais uma letra da Vanessa da qual me apropriei. Aborda as questões existenciais de vida e morte. O que seremos depois. Cinzas têm dúvidas? Que são as cinzas, para onde vamos após a morte? O que é de tudo que foi vivido?

      POESIA: Minha posição estética diante da poesia. Influência direta do Concretismo.

      POÉTICO/PATÉTICO: Influência do Walter Franco e também do concretismo, onde tento reduzir o poema a apenas palavras que se combinam por similaridade e oposição. Não há verbo e quase não se formam sentenças. É a força da própria palavra, seu som e significados que dão o tom da coisa. É direto na veia, mas devagar, no suingue.

      VíCIO: Poderia-se dizer que é um poema com forte tinta psicanalítica, abordando o vício sem preconceitos e moralismo. Simplesmente pensando seus mecanismos, sua estrutura a partir de experiências próprias tanto no campo profissional como pessoal. Vício aqui não se restringe só às drogas, mas a tudo que se repete compulsivamente e faz com que a pessoa não tenha mais domínio de si, é tragada pela repetição e vai deixando de ser uma pessoa, para se tornar um vulto. Auto-boicote, supressão de si mesmo. Acho interessante que a profundidade do tema não tira o prazer de cantá-la alegremente.

      PHEDRA DE CÓRDOBA: Canção em homenagem à atriz Cubana Phedra de Còrdoba, atriz do grupo Satyros que sacudiu a cena cultural da pça Roosevelt. Foi nesse teatro que retomei minhas incursões musicais com o apoio do Rodolfo Varquez e do Ivam Cabral. Phedra no palco é algo inexplicável. Só vendo.

      AS IMPUREZAS DA RUA SEM VÉU: Uma declaração de amor à praça que serviu de laboratório para minhas experiências musicais e meu retorno à cena musical. É um yê yê yê,  o primeiro ritmo que, na minha juventude, fez-me interessar por música popular e me despertar o desejo de fazer canções. Tudo se junta nessa canção. Meus sonhos infantis e minhas realizações adultas. Ela foge um pouco do clima subsolo do disco, mas resolvi incluí-la porque o tema fala também de um teatro underground, de um grupo que ousou enfrentar todas as restrições a seu trabalho e se impôs.

Embora o disco contenha vários ritmos, podendo ter corrido o risco de cair numa salada amorfa, o viés poético e o universo temático, canções do subsolo, lhe dá a unidade necessária a uma obra artística no sentido mais puro da palavra.

Todo o resultado sonoro foi meticulosamente pensado por mim e Valter Gomes, um músico de enorme talento e que precisa ser descoberto.















domingo, 10 de julho de 2011

            Amigos, depois de um período ausente, volto a postar.
      Hoje, trata-se de um texto de uma amiga que escreve coisas muito interessantes e com um humor que lhe é peculiar: Georgeta Gonçalves.
        É formada em letras e abraça a causa ecológica, tendo um conhecimento vasto sobre a questão do Lixo.


Confiram outras jóias no seu blog:


http://georgetaescrevivendoemcamburi.blogspot.com/




Um gato no mercado




                                                          imagem: reprodução




            Reduzo e dou seta para avisar que vou entrar no estacionamento do mercado. Um carro preto gruda atrás de mim e pisca o farol para me empurrar, apressadíssimo. Seria o Batman? Antes que eu chegue à guarita ele me ultrapassa. Penso um palavrão que senhoras nunca dizem e rumo para a vaga de idosos, já que tenho meu adesivo oficial...
      Mas, adivinhem quem está estacionando lá, na “minha” vaga? O batmóvel!
Um garotão bonito desce do carro falando ao celular sem perceber que parou numa vaga pelo menos trinta anos antes de ter o direito a ela.
      - Oras, eis o gatinho apressado! E já que eu não estou com pressa alguma, vou brincar um pouco! Melhor do que brigar. – penso.
      Estaciono exatamente atrás do batmóvel de forma que ele não possa sair. O gato está preso. Miau...
      Saio do carro bem devagar, costas curvadas, pego minhas sacolas retornáveis de Pernalonga e Piu Piu e rumo ao mercado. Ele me olha surpreso.
      - Ei, tia... eu vou sair daqui a pouco! A senhora me fechou!
      Finjo que não escuto e continuo mancando vagarosamente. Afinal, tenho 150 anos e as aulas de teatro da Terceira Idade finalmente são úteis.
      - Tia!! A senhora travou meu carro!! – grita, vindo na minha direção.
      - Ah... é o genro do Elizeu! Fale mais alto! Sou meio surda! Me ajuda aqui, segura essas sacolas!
      - Tia, nem conheço o Elizeu, só quero que a senhora tire seu carro dali – grita, mas, no susto, pega as sacolas.
      - Já já eu saio. É uma comprinha rápida.
      Continuo mancando com o gato, aflitíssimo, andando ao meu lado. Testo vários carrinhos até encontrar um bem torto e empurro para ele - que não tem como recusar.
      Setor das bebidas, aqui estamos! Vamos lá, a lista é grande: vodka, cachaça, uísque, saquê, espumante, tequila, vinho e cerveja. Coloco as garrafas no carrinho com método: nas cinco primeiras camadas, garrafas na horizontal. Na última, garrafas em pé. Faz parte do plano! O carrinho transborda e ele está engraçado com as sacolas no ombro.
     - Pô, tia, a senhora tem bar? – pergunta.
     - Fale mais alto! Eu? Bar? Não. É que gosto de um drinquezinho! - desculpo-me aos berros. - Venha, vamos ao resto!
      Ele olha para os lados, envergonhado, mas me segue, fazendo curvas quadradas. O carrinho é cruel!
      Setor de verduras. Espeto muitas couves, salsinhas e outras folhas entre os gargalos das garrafas. Reservo o espaço central para uma imensa abóbora que circundo com pencas de bananas. Sobre a abóbora, uma maçã verde. Espalho cerejas, inhames e cebolas roxas sobre tudo. Lindo! Um carrinho paisagístico, coisa de Bienal. As cebolas caem, os inhames rolam pelo chão e ele, claro, vai apanhando e tentando acomodar dentro do impossível. Me afasto um pouco, tiro o celular do bolso e filmo a cena sem que ele veja.
      - Vamos! Você não está com pressa? - e corro em outra direção.
      - O carrinho não anda! Está torto! – grita, tentando me seguir.
      - Nem carrinho de mercado você sabe dirigir! Devia ter sua carteira suspensa!
      O diálogo se dá aos 120 decibéis e ele está vermelho de vergonha, pois temos um bom público.
      - Tia, quem não sabe é a senhora, pois travou meu carro! Vou chamar o segurança do estacionamento! – ousa.
      - Ok. – falo com voz normal, baixa e incisiva, olho no olho - Você chama o segurança e eu o Departamento de Trânsito. Eles guincham seu carro e você ainda ganha 4 pontos na carteira. Artigo 181, inciso XVIII. Seu carro está na vaga de idosos.
      - .... - ele fica paralisado. - O bronzeado sumiu?
      - Tia... Juro que não vi.
      - Se prestasse atenção, veria. Vou pegar o pão, pois é só isso que eu vim comprar. Comece a repor cada coisa em seu lugar e quando acabar me avise. Espero na praça de alimentação, mas volto para conferir. Se ficar uma cebola fora do lugar coloco o filme que fiz no Youtube e você vai ser visto pelo mundo todo com essas sacolas ridículas e esse carrinho maluco. Vai ser fácil descobrir seu nome pela placa do carro! Se for bonzinho deixo você apagar o filme. Ah.... seja rápido, pois em quinze minutos entro no cabeleireiro e vou ficar duas horas. Chapinha demora!







quinta-feira, 23 de junho de 2011

Eu na revista Brasileiros de Junho


Divas e divãs


Psicanalista, cantor e compositor garimpado por Cássia Eller, Luiz Pinheiro lança o CD Decompor


MÚSICA
Por Luiz Chagas


                                          
O olhar desconfiado trai a ascendência mineira. O jeito calmo e pausado de quem ouve mais do que fala demonstra a profissão. A voz educada... Bem, foi educada de fato. Psiquiatra de formação e psicanalista por opção, Luiz Pinheiro, o Pi, sempre compôs e, para cantar melhor suas músicas, estudou canto. O resultado foi Decantar, espetáculo de 2005 em que atuou mais como intérprete, repetido inúmeras vezes em diversos palcos e registrado em vídeo. Agora, Luiz Pinheiro lança o CD Decompor - Canções de Subsolo, que inclui composições suas de várias épocas. Nascido em Juiz de Fora, filho de mãe esteticista e de um chofer de táxi criptocomunista, que batizou o filho Luiz Carlos em homenagem a Prestes, Pi mudou-se com a família para Ourinhos, no interior paulista, onde o futuro de Luiz Pinheiro se desenhou.



Lá, Pi conheceu Hermelino Neder, Vânia Bastos e Gil Jardim, mais tarde integrantes destacados da chamada Vanguarda Paulista. Hermelino, com o Santos Football Music. Vânia, com a banda Isca de Polícia, de Itamar Assumpção, e considerada "A" intérprete de Arrigo Barnabé. E Gil como flautista do Grupo Papavento, frequentador do Teatro Lira Paulistana e hoje diretor artístico e regente titular da Orquestra de Câmara da Universidade de São Paulo (OCAM). Pi e Hermelino formaram uma parceria ainda em pé. A primeira composição gravada da dupla foi Kitsch, do primeiro disco solo de Vânia. Pi foi vocalista nos primeiros shows do Santos FM, uma composição sua, Façanhas, deu título ao disco de 1992 de Arrigo e, ao lado de Hermê, foi garimpado por Cássia Eller, recém-chegada de Brasília, de passagem por São Paulo e a caminho do sucesso no Rio - o disco Cássia Secreta (2007) traz as músicas da dupla que a cantora gravou e que costumava cantar em seus shows. Decompor tem como subtítulo Canções de Subsolo, uma referência ao livro Notas do Subterrâneo, de Dostoiévski, que para Pi traz "uma prefiguração das ideias de Freud". No disco, encontramos ecos de Lupicínio Rodrigues, Adelino Moreira, Jards Macalé, Walter Franco e Vicente Celestino. Não é à toa que Pi incluiu no CD, a música Haja o que Houver, de Fernando César e Nazareno de Brito, gravada pela dramática Lana Bittencourt nos anos 1950 - além de Brasa Dormida, do carioca Marcelo, dos anos 1980.



As outras 13 canções do disco têm sua assinatura com vários parceiros. O som surgiu do feliz encontro entre Pi e o guitarrista Valter Gomes, responsável pela sonoridade pé no chão que o trabalho sugere. O cardápio é variado. Há desde Dor, composta ainda nos tempos da faculdade de Medicina, à recente Do Seu Lado; a amiga Vanessa Bumagny canta e é parceira no disco, Hermelino limitou-se a tocar violão e a Praça Roosevelt, cenário das Satyricas Musicais criadas por Pi entre outros, aparece duas vezes, em Phedra de Córdoba (nome de uma atriz transexual cubana idolatrada na praça) e no iê-iê-iê As Impurezas da Rua sem Véu (Praça Roosevelt), uma espécie de bônus track. E pode-se dizer que, como psicanalista e compositor, Pi vale por mais de dois. Digamos que por volta de 3,1415926...





quarta-feira, 15 de junho de 2011

Um poema

                                             imagem: reprodução

Brio
Luiz Pinheiro


Não quero mais
o ócio dos ópios
nem a alegria fácil
dos cios.

Não quero calor
que me traga frio
nem beleza
que só dê arrepio.

Quero o silêncio
do vazio e a voz
do homem incompleto,
com brio.

Dos ímpios,
nem um pio.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Debaixo d'água

Estou postando a música de duas compositoras que não abrem mão da sinceridade de sua arte.
Não se vendem, botam pra quebrar, sem concessões, e esbanjam sensualidade.

Estou maravilhado com essa música de minhas amigas Adriana e Letícia.
Etérea, minimalista, poética, essencial.

“Eu não sei dançar, tão devagar”, para acompanhá-las, mas quero que com elas seja minha próxima dança.

Viajem.

                                                    

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Cássia Eller no programa "Aconteceu" da rede TV- parte 4

                                                         

Cássia Eller no programa "Aconteceu" da rede TV . Parte 3

Cássia Eller no programa "Aconteceu" da rede TV

Amigos, estou postando episódios do programa Aconteceu, da rede TV, onde dou depoimentos sobre a cantora Cássia Eller.

                                                                                           

domingo, 15 de maio de 2011

Brasa dormida

Estou postando um vídeo do meu show "DECANTAR", com a música "Brasa dormida" (Marcelo/Ney Costa).


Gravei essa música no meu novo CD "DECOMPOR", com outro arranjo, conforme já postado neste blog.


                                               



domingo, 8 de maio de 2011

Triz

              Amigos, estou postando, hoje, o vídeo de uma amiga que admiro muito, como cantora e compositora.
Vanessa Bumagny está no seu segundo CD: "Pétala por pétala".

      O disco foi produzido por Zeca Baleiro e tem preciosidades. Já tenho algumas parcerias com ela das quais muito me orgulho.

       No meio de tantas cantoras novas, Vanessa se destaca por seu jeito muito próprio de cantar e por suas letras, que são pura poesia.  Vale a pena ouví-la. .

      Ouçam e constatem.
      Um abraço,
      Luiz

                                                             

domingo, 1 de maio de 2011

Capa do cd








Para aqueles que estão curiosos apresento em primeira mão a capa do meu CD que já está no forno e sairá no final de Maio, começo de Junho.
Não vejo a hora.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Caros, conforme prometi, estou postando, hoje, o texto de um amigo.

Miro Cardoso é poeta, quadrinista e cronista. Escreve para O' AVESSO, jornal publicado mensalmente em Ourinhos.

Além de talentoso é o amigo com quem discuto todo o meu trabalho artístico. Foi meu professor de Inglês no ginásio e é um dos poucos que ainda escrevem cartas, somente pelo prazer de passar a língua no selo, como ele mesmo diz.

Acho este texto primoroso.

Encantem-se.

                                                                 
                                                   As duas Marias


                                                      imagem: reprodução

Miro Cardoso

            Na puberdade, conheci duas Marias: Quitéria e Natalina. Ambas, concorrentes profissionais, desfilavam em calçadas opostas de uma mesma avenida. Enquanto uma subia, a outra descia perfumando as várias esquinas.
      Nunca se soube de qualquer documento que revelasse a origem ou a idade das duas beldades. Não tinham sobrenomes, só alcunhas: “Carro Alegórico” e “Árvore de Natal”.
      Solteironas por convicção, vaidosas e com semelhantes objetivos viviam de bicos, brindes, doações e presentes.
      Nas proximidades da passarela que pleiteavam dias, noites e madrugadas, de um lado morava Quitéria e do outro Natalina. O lar de cada uma delas resumia-se num quarto e banheiro. A sala era a cidade; a cozinha uma cantina; a copa um botequim; o corredor uma rua; o quintal uma praça; a garagem um meio-fio e na área-de-serviço... só prazer.
      A vida cobrava-lhes simpatias e sorrisos constantes. Nunca podiam estar tristes, por isso cantarolavam Dalva e Lana para confortar os males.
      Sem computadores, elas passavam horas e horas diante dos espelhos orlados de fotos e bilhetes – os facebooks e e-mails da época. E os seus celulares? Eram as escovas de cabelo.
      As felizes eram livres, pois não dependiam de planejamentos, pontos, conselhos, diários e justificativas de suas ausências ou das reprovações de seus clientes.
      As duas Marias sempre protegidas por bons cremes, ousadas tinturas, transparentes tecidos, balangandãs e saltos-altos tiveram vida longa. Sobreviveram mesmo sob soslaios olhares das fêmeas e cobiçados cortejos dos machos.
      Embora imortais, a primeira Maria morreu em pleno Carnaval e foi enterrada na Quarta-feira de Cinzas. A seu pedido, no velório não havia flores ou coroas. Aliás, ela odiava coroas.
      Cobriam a maquiadíssima defunta: cravejados óculos gatinho, berloques, brincos, bijuterias, bolsas, cintos, lenços e tiaras. Nos ombros as alças finas do vestido amarelo-ouro, nos braços braceletes, nos pulsos relógios com a hora marcada, nos dedos toda sorte de anéis e unhas de causar inveja. Nos pés as tiras douradas das sandálias.
      Purpurinas, confetes e serpentinas salpicavam o ambiente do teto ao chão. E assim, Quitéria, ao som de marchinhas seguiu pro céu cheirando a lança-perfume.
      Dez meses depois, durante a Missa do Galo, digo, da Galinha, morreu Maria Natalina. Nada de flores ou velas. Só fitas, bolas, laços, guirlandas e pisca-piscas decoravam o caixão verde-pinhal.
      A falecida harmonizava-se nos tons rubros e neves do casquete, véu, bustiê, mini-saia, meias arrastão, sombrinha e sapatilhas. Entre as mãos, a boceta de rapé e o porta-jóias de cristal. Tudo subiu aos céus ao som de Jingle Bells e cheirando a leitoa assada.
      Quando dizem que não se leva nada dessa vida... Discordo! Maria Quitéria e Maria Natalina levaram tudo que amaram, inclusive meu coração.