domingo, 10 de julho de 2011

            Amigos, depois de um período ausente, volto a postar.
      Hoje, trata-se de um texto de uma amiga que escreve coisas muito interessantes e com um humor que lhe é peculiar: Georgeta Gonçalves.
        É formada em letras e abraça a causa ecológica, tendo um conhecimento vasto sobre a questão do Lixo.


Confiram outras jóias no seu blog:


http://georgetaescrevivendoemcamburi.blogspot.com/




Um gato no mercado




                                                          imagem: reprodução




            Reduzo e dou seta para avisar que vou entrar no estacionamento do mercado. Um carro preto gruda atrás de mim e pisca o farol para me empurrar, apressadíssimo. Seria o Batman? Antes que eu chegue à guarita ele me ultrapassa. Penso um palavrão que senhoras nunca dizem e rumo para a vaga de idosos, já que tenho meu adesivo oficial...
      Mas, adivinhem quem está estacionando lá, na “minha” vaga? O batmóvel!
Um garotão bonito desce do carro falando ao celular sem perceber que parou numa vaga pelo menos trinta anos antes de ter o direito a ela.
      - Oras, eis o gatinho apressado! E já que eu não estou com pressa alguma, vou brincar um pouco! Melhor do que brigar. – penso.
      Estaciono exatamente atrás do batmóvel de forma que ele não possa sair. O gato está preso. Miau...
      Saio do carro bem devagar, costas curvadas, pego minhas sacolas retornáveis de Pernalonga e Piu Piu e rumo ao mercado. Ele me olha surpreso.
      - Ei, tia... eu vou sair daqui a pouco! A senhora me fechou!
      Finjo que não escuto e continuo mancando vagarosamente. Afinal, tenho 150 anos e as aulas de teatro da Terceira Idade finalmente são úteis.
      - Tia!! A senhora travou meu carro!! – grita, vindo na minha direção.
      - Ah... é o genro do Elizeu! Fale mais alto! Sou meio surda! Me ajuda aqui, segura essas sacolas!
      - Tia, nem conheço o Elizeu, só quero que a senhora tire seu carro dali – grita, mas, no susto, pega as sacolas.
      - Já já eu saio. É uma comprinha rápida.
      Continuo mancando com o gato, aflitíssimo, andando ao meu lado. Testo vários carrinhos até encontrar um bem torto e empurro para ele - que não tem como recusar.
      Setor das bebidas, aqui estamos! Vamos lá, a lista é grande: vodka, cachaça, uísque, saquê, espumante, tequila, vinho e cerveja. Coloco as garrafas no carrinho com método: nas cinco primeiras camadas, garrafas na horizontal. Na última, garrafas em pé. Faz parte do plano! O carrinho transborda e ele está engraçado com as sacolas no ombro.
     - Pô, tia, a senhora tem bar? – pergunta.
     - Fale mais alto! Eu? Bar? Não. É que gosto de um drinquezinho! - desculpo-me aos berros. - Venha, vamos ao resto!
      Ele olha para os lados, envergonhado, mas me segue, fazendo curvas quadradas. O carrinho é cruel!
      Setor de verduras. Espeto muitas couves, salsinhas e outras folhas entre os gargalos das garrafas. Reservo o espaço central para uma imensa abóbora que circundo com pencas de bananas. Sobre a abóbora, uma maçã verde. Espalho cerejas, inhames e cebolas roxas sobre tudo. Lindo! Um carrinho paisagístico, coisa de Bienal. As cebolas caem, os inhames rolam pelo chão e ele, claro, vai apanhando e tentando acomodar dentro do impossível. Me afasto um pouco, tiro o celular do bolso e filmo a cena sem que ele veja.
      - Vamos! Você não está com pressa? - e corro em outra direção.
      - O carrinho não anda! Está torto! – grita, tentando me seguir.
      - Nem carrinho de mercado você sabe dirigir! Devia ter sua carteira suspensa!
      O diálogo se dá aos 120 decibéis e ele está vermelho de vergonha, pois temos um bom público.
      - Tia, quem não sabe é a senhora, pois travou meu carro! Vou chamar o segurança do estacionamento! – ousa.
      - Ok. – falo com voz normal, baixa e incisiva, olho no olho - Você chama o segurança e eu o Departamento de Trânsito. Eles guincham seu carro e você ainda ganha 4 pontos na carteira. Artigo 181, inciso XVIII. Seu carro está na vaga de idosos.
      - .... - ele fica paralisado. - O bronzeado sumiu?
      - Tia... Juro que não vi.
      - Se prestasse atenção, veria. Vou pegar o pão, pois é só isso que eu vim comprar. Comece a repor cada coisa em seu lugar e quando acabar me avise. Espero na praça de alimentação, mas volto para conferir. Se ficar uma cebola fora do lugar coloco o filme que fiz no Youtube e você vai ser visto pelo mundo todo com essas sacolas ridículas e esse carrinho maluco. Vai ser fácil descobrir seu nome pela placa do carro! Se for bonzinho deixo você apagar o filme. Ah.... seja rápido, pois em quinze minutos entro no cabeleireiro e vou ficar duas horas. Chapinha demora!







Um comentário:

  1. Muito legal, Luiz Pinheiro Decantor, adorei ainda estou dando grandes risadas.
    MARIA HELENA

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