sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Sobre a canção “Haja o que houver”



Imagem: Reprodução


Luiz Pinheiro


A primeira vez que tive contato com essa música foi através de um amigo.

Estávamos no Anhangabaú assistindo a um show do Gilberto Gil, quando sentamos na calçada para descansar e ele cantarolou essa canção para mim.

Aquele aspecto masoquista da letra me chamou a atenção e na minha cabeça ficaram duas frases martelando: "de você só quero isto, que você saiba que eu existo" e "pode me bater, me xingar, me maltratar que ainda canto parabéns". Pedi que ele cantasse mais uma vez e lhe disse: se um dia eu gravar um disco, vou incluir essa canção. Até hoje não sei porque disse isso. É um mistério.

Anos se passaram e cá estou eu gravando meu primeiro disco solo. Lembrei-me da promessa que fiz a mim mesmo e fui atrás da música.

Rodei todos os sebos de São Paulo. Inicialmente, pensei que fosse a Núbia Lafayette quem cantava. Ouvi todos os discos dela encontráveis na praça. Nada. Foi quando localizei aquele amigo que me disse que era a Lana Bittencourt a intérprete. Mais peregrinação pelos sebos. O difícil é que eu nem sabia o nome da música. Quando encontrava qualquer disco da Lana, ouvia-o do começo ao fim.

Já estava para desistir, quando um dia, andando pelo centro, um outro amigo me convidou para entrar em uma galeria porque ele queria comprar um disco raro do Biquini Cavadão.

Encontramos um sebo, bem escondido, no segundo andar. Enquanto ele procurava pelo seu CD, eu comecei a revirar os LPs. O vendedor disse que não tinha Lana, mas não é que encontrei um?

Depois de ter ouvido quase todas as músicas e já me dando por vencido, na última faixa do lado B, ouço "Bata se quer me bater, será pra mim um prazer. Era ela... e o prazer era todo meu. Entrei atrás do Biquini Cavadão e saí com Lana Bittencourt.

Mostrei para o Valter Gomes e ele fez um arranjo, no violão, para minha interpretação, mais clean e com uma leve ironia. Binho Ortega colocou o piano e Hermelino Neder deu os toques finais, deixando o piano apenas no início e no final da música (algo pouco convencional), ressaltando o meu canto.

Nos dias tão politicamente corretos de hoje, achei que gravando essa música eu poderia fazer uma provocaçãozinha...




                        


4 comentários:

  1. Ouvi. Tomei um frontal e esqueci. Mentira. Ouvi de novo. Morro de medo de ouvir de novo amanhã.
    Vício. Lembrei.

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  2. Roberval disse...
    Ao ouvir a úsica lembrei de outra música... Atiraste uma pedra no peito...

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  3. Pi. Pelo Flávio conheci seu blog. Voltarei mais vezes. Um ótimo ano para você. E sucesso no novo disco!

    Um abraço,

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  4. Pi, quanto tempo hein! Como vc está?
    Caro fiquei arrepiado ao ouvir sua versão, parabéns...é pra chorar!

    Adorei esta provocacão! Sua geração realmente é privilegiada, Culta!

    Cara queria ser somente um pouquinho disso tudo.

    Tô com saudades de ti!

    Bjs!

    Deiverson

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