sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Vidigal (Crônica poética)


Imagem: Reprodução
Luiz Pinheiro
(julho 2010)

Depois que Charles Nelson
me aplicou Vidigal,
nunca mais fui o mesmo,
nunca mais fui igual.


Pelos vãos,
entre motos e vans,
que não excluem ninguém,
pessoas vão e vêm
muito mais que depressa.
Mesmo parado, no sopé,
o movimento  não cessa.


Poemas na escada
e araras coloridas
nos azulejos
contrastam com
a dura mais pura 
realidade  que vejo.


Tudo nasce
como um prematuro parto
e desaparece 
no mesmo instante:
Infarto fulminante.
Entre sussurros e carros
rapazes brotam do céu
e do barro.


O que é fato,
são como gestos de teatro.
Em cena aberta,
quando me abordam
não me ferem,
porque parece
que  todos bem me querem.


Vilma anda
como se sambasse
e me acena de longe
com uma beleza
que não se põe
em nenhuma mesa:
leveza de monge,
no burburinho
que lhe foge.


Distante do asfalto,
Jesus vende lá no alto
e Dadinho, cá embaixo,
nos saúda 
com seu sorriso cauto.
Desço do salto e
amo o que não conheço
porque me faz parecer
o que não pareço.


A favela acuada,
majestosa
escorrega pelo morro
e escabrosa
vislumbra o mar:
Comunitários no horizonte,
poetas no bar.


Vidigal:
videoclipe da vida real,
Ilusão,
simbiose
entre o bem e o mal.


Visto o que havia 
para ser visto,
me dispo,
respiro e desço.
nada  dou,
nada peço,
apenas envelheço.

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