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Imagem: Reprodução |
(julho 2010)
Depois que Charles Nelson
me aplicou Vidigal,
nunca mais fui o mesmo,
nunca mais fui igual.
Pelos vãos,
entre motos e vans,
que não excluem ninguém,
pessoas vão e vêm
muito mais que depressa.
Mesmo parado, no sopé,
o movimento não cessa.
Poemas na escada
e araras coloridas
nos azulejos
contrastam com
a dura mais pura
realidade que vejo.
Tudo nasce
como um prematuro parto
e desaparece
no mesmo instante:
Infarto fulminante.
Entre sussurros e carros
rapazes brotam do céu
e do barro.
O que é fato,
são como gestos de teatro.
Em cena aberta,
quando me abordam
não me ferem,
porque parece
que todos bem me querem.
Vilma anda
como se sambasse
e me acena de longe
com uma beleza
que não se põe
em nenhuma mesa:
leveza de monge,
no burburinho
que lhe foge.
Distante do asfalto,
Jesus vende lá no alto
e Dadinho, cá embaixo,
nos saúda
com seu sorriso cauto.
Desço do salto e
amo o que não conheço
porque me faz parecer
o que não pareço.
A favela acuada,
majestosa
escorrega pelo morro
e escabrosa
vislumbra o mar:
Comunitários no horizonte,
poetas no bar.
Vidigal:
videoclipe da vida real,
Ilusão,
simbiose
entre o bem e o mal.
Visto o que havia
para ser visto,
me dispo,
respiro e desço.
nada dou,
nada peço,
apenas envelheço.
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